Introdução
A cannabis medicinal tem ganhado destaque como alternativa terapêutica em diversas áreas da saúde, e agora sua aplicação no campo da psiquiatria começa a ser estudada com mais profundidade. Neste artigo, você vai entender o que dizem as evidências clínicas sobre o uso da cannabis para transtornos psiquiátricos, quais são os riscos, benefícios e recomendações para o uso responsável.
O Que a Ciência Já Sabe Sobre Cannabis Medicinal na Psiquiatria
Um Campo Emergente
Estudos iniciais sugerem que a cannabis medicinal pode ter aplicação terapêutica em condições como:
- Transtornos de ansiedade
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
- Insônia
- Esquizofrenia (uso adjuvante de CBD)
- TDAH (evidência preliminar)
Por outro lado, as evidências para o uso de cannabis em casos de depressão e transtorno bipolar ainda são consideradas fracas ou contraditórias.
Como Funciona: O Papel do Sistema Endocanabinoide
Os canabinoides interagem com o sistema endocanabinoide — uma rede de receptores no cérebro e corpo — regulando funções como humor, sono, dor e resposta ao estresse. O CBD e o THC são os compostos mais estudados:
- CBD (canabidiol): não psicoativo, com propriedades ansiolíticas e antipsicóticas
- THC (tetrahidrocanabinol): psicoativo, pode agravar sintomas psiquiátricos em alguns pacientes
Revisão das Evidências por Transtorno
Transtornos de Ansiedade
Estudos mostram que o CBD pode reduzir sintomas de ansiedade social e gerar relaxamento sem efeitos colaterais psicoativos. Já o THC pode ser ansiolítico em doses baixas, mas tende a causar ansiedade em doses mais altas.
Destaques:
- Redução de ansiedade em testes simulados de fala pública
- Estudos com neuroimagem mostram alterações em áreas límbicas do cérebro
TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)
Dados iniciais apontam melhora nos sintomas de TEPT com o uso de cannabis medicinal — especialmente para controle de sono e flashbacks. Um estudo relatou até 75% de redução de sintomas com uso regular.
Insônia
Há evidência de que tanto o THC quanto o CBD podem ajudar pacientes com insônia, especialmente quando associada a dor crônica ou ansiedade. Os efeitos observados incluem:
- Redução do tempo para adormecer
- Menos despertares noturnos
- Melhora na qualidade do sono
Esquizofrenia
O uso de THC pode agravar sintomas psicóticos. No entanto, o CBD tem se mostrado promissor como adjuvante ao tratamento tradicional:
- Estudos com até 1000 mg/dia de CBD mostraram melhora em sintomas positivos da esquizofrenia
- Efeitos colaterais mínimos comparados a antipsicóticos convencionais
TDAH
As evidências ainda são limitadas. Um estudo piloto com nabiximols (spray oral com THC e CBD) mostrou melhora leve em impulsividade, sem prejuízo cognitivo.
Considerações Clínicas Importantes
Quem Pode se Beneficiar?
Antes de considerar a prescrição, médicos devem avaliar:
- Idade (evitar THC em menores de 25 anos)
- Histórico pessoal ou familiar de psicose
- Presença de doenças cardíacas ou respiratórias
- Gravidez ou lactação
Doses Recomendadas
- CBD: entre 200 mg e 800 mg/dia, dependendo da condição
- THC: recomenda-se cautela ao ultrapassar 20 mg/dia
Vias de Administração
- Inalatória (vaporização): efeito rápido
- Oral (óleos, cápsulas): efeito mais duradouro
- Sublingual: ação intermediária
Riscos e Efeitos Colaterais
- Boca seca
- Sonolência
- Tontura
- Euforia (em doses altas de THC)
- Potencial agravamento de quadros psicóticos ou ansiosos
Limitações das Pesquisas Atuais
- A maioria dos estudos é de pequeno porte
- Poucos estudos clínicos randomizados (ECRs)
- Dificuldade de cegamento em estudos com THC devido aos efeitos psicoativos
Conclusão
Embora os dados ainda sejam iniciais, a cannabis medicinal para transtornos psiquiátricos mostra-se promissora, especialmente para o uso do CBD em quadros como ansiedade, insônia e esquizofrenia. No entanto, é essencial cautela na prescrição — especialmente com o THC — e o acompanhamento médico contínuo.
A recomendação geral é que pacientes e médicos discutam juntos os riscos e benefícios, considerando evidências atuais e novas pesquisas que ainda estão em andamento.
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Link da matéria: https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-019-2409-8